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Assistente de português

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Ser Assistente   Há muito tempo que não venho aqui... Na realidade, já há algum tempo que não escrevo. Vou sempre escrevendo, mas hoje trago um tema especial: a minha experiência enquanto assistente de Português em Rouen, França. Amanhã regresso a Portugal para as minhas férias de Natal e, para mim, é como se a primeira parte desta experiência já estivesse concluída. Chegou a hora de a partilhar com o mundo.  1 - O que é ser assistente?    Ser assistente de língua é um projeto de "France Éducation  International" que permite a nativos de língua portuguesa, espanhola, alemã, inglesa, chinesa e árabe trabalhar em França, em escolas públicas (no ensino primário, básico ou secundário). Obviamente, nativos da língua francesa podem também decidir ser assistentes de francês num país com o qual haja este protocolo - como é o caso de Portugal.     No meu caso, a minha missão consiste em ajudar e dinamizar as aulas de Português nas 3 escolas onde trabalho, o que quer dizer que

Uma nova vida

Aviso: Este não é um texto literário.  La Ville aux Cent Clochers   Olá a todos! Depois de algum tempo sem escrever, aqui venho eu, mas, desta vez, para falar sobre uma nova experiência na minha vida: viver no estrangeiro. Encontro-me neste momento em Rouen, nordeste de França, onde serei assistente de português durante algum tempo ao abrigo do programa de assistentes em França. Resumindo, trabalharei com professores de português em França e a minha missão é a de motivar os alunos a aprenderem português através de apresentações, atividades, etc.       Ainda não fui às escolas onde vou trabalhar, uma vez que cheguei na sexta-feira. Em breve, irei até lá. Por isso, vou contentar-me em contar a experiência que tive até agora.    Em primeiro lugar, cheguei ao aeroporto de Paris-Beauvais dia 27 de setembro por volta das 10h20 (hora de França). O aeroporto é um bocadinho no meio do nada, uma vez que Beauvais não é uma cidade muito grande... Estava na companhia da assistente Di
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Choro de Palavras   Imperscrutável.   Gostaria que o meu rosto se tornasse imperscrutável. Que fosse sempre imperscrutável, como a brisa noturna que me acaricia os pés ao mesmo tempo que me esvazia os pulmões de melancolia. Gostaria de deixar de ser um aglomerado de raiva e de tristeza contra alguém ou contra alguma coisa cujo nome anseio descobrir. Gostaria de ser uma alma da ataraxia, mas sou um boneco demasiado humano que sente tudo e que tudo deixa alojado na sua alma.   O dia esmorece e nunca estive tão feliz por isso. O calor enlouquecedor da tarde dissipa-se e dá origem a um crepúsculo tingido de roxo, cinzento, laranja e azul. O calor e a luz lancinantes matam-me de dia e só o reinado do crepúsculo me faz, enfim, suspirar. Sinto uma ligeira acalmia; a vontade de rasgar a caixa torácica e de me esganar num grito apazigua-se. A brisa leva os pensamentos inconstantes que se apoderam de mim e põe fim a mais um dia.   Um dia como qualquer outro, em que tudo quis fazer, mas

Sufoco urbano

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     Abafo. Abafo dentro desta casa, destas paredes sem vida, brancas de lividez e de dias aqui passados. A noite chama-me. O vento é frio, a chuva vai fustigando os poucos que se aventuram a sair de casa, mas está na hora de sair. Cometer uma pequena loucura num mundo racional.   Visto-me, pego no chapéu de chuva e vou-me embora. Pudesse eu ir-me embora de vez… Como daquela vez ao pé do Tejo, onde via os reflexos da luz caírem pelo rio abaixo, e eu imaginava-me a ir, a partir, a levantar voo. E agora estou só, mergulhado na noite citadina, esmagado pelos edifícios que me envolvem, ninguém se atreve a sair de casa, oiço dois ou três carros que passam corajosamente por mim. Nem posso deambular como deve ser, a noite não me quer longe, fico por aqui, tem de ser… Vou pelas ruas da vizinhança, no meio do ar húmido, e ando para cima e para baixo a olhar para edifícios e edifícios entrecortados por uma rara vegetação deixada para trás pela contemporaneidade urbanística. Não tenho destino

Ficções

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Chá de Alma   Sol.   Hoje o tédio levantou-se cedo, saiu da cama, viu o sol. “O dia está belo” – pensou. Belo dia para se passear pelas almas afadigadas, para se mostrar nas ruas, para se divertir com os burgueses. O tédio veste-se. Um manto púrpura brilhante, escondendo roupas pretas, evidentemente. Empalidece propositadamente, busca com mãos venenosas a sua escova, penteia-se de modo arrojado, louco, frenético.   Aí vai ele, deslizando, desfilando, como se todo o mundo fosse dele, como se esta vida não lhe pertencesse senão a ele. O tédio desfila e, no seu manto, pode ler-se “Chamem-me tédio, spleen , ennui , mal-estar ou sadness . Não interessa o meu nome”. Realmente, não interessa o nome que se lhe dá e, no entanto, sem esse nome, sem esse epíteto vivo, o tédio não seria mais do que uma mera forma estranha. O seu nome é a sua identidade.   O desfile ainda não terminou. O sol. Faz-lhe bem o sol, pelo menos assim pensa. Adora passear-se ao sol, sempre poupa um pouco