Manhãs

O Sol que me entra pela janela




  Detesto acordar tarde. Ou melhor, prefiro não o fazer. Adoro manhãs. Adoro manhãs luminosas, manhãs de paz. Tantos me dizem que adoram a noite e, porém, não é ela a que mais me encanta. As trevas trazem a paz, a acalmia, mas apenas porque são trevas. Não há assim tanta paz num mundo obscurecido.
  Prefiro a luz, prefiro os tímidos raios de luz que entram pela minha janela de manhã. Aqueles raios de luz dizem-me tanto... São tudo aquilo que sou quando me sou. Quero ser um raio de luz de uma manhã que inspira tranquilidade e quietude . Quero toda aquela paz que me entra na alma pela janela.
  A maioria das pessoas dorme. Querem ficar na cama. Aproveitar aquele restinho de calor que está na cama. Eu censuro-me quando não saio da cama. Como vos vivo, minhas manhãs! Como me sinto feliz quando vos sinto aqui dentro desta alma! É nestas manhãs que eu sinto a paz a que tantos poetas se referem... É nestas manhãs que eu sinto que tudo me é possível. Tenho paz, tenho quietude e tenho luz. Vejo o colorido das folhas, vejo a beleza das ruas e lembro-me que posso ser tão belo e colorido como elas.
  É nestes momentos que me acordo interiormente. Sou a minha própria cafeína nestas belas manhã de Inverno. Nestas manhãs em que ninguém me perturba, em que todos me deixam estar em paz, em que a quietude toma conta de mim. Nestes momentos, sei que posso ser tudo quanto quero ser. Sei que tudo se cura. Sei que nada pesa na minha consciência, pois ela encontra-se ligada à paisagem que me circunda.
  Se todos soubéssemos manter esta tranquilidade, esta paz, talvez houvesse menos sofrimento. Talvez ninguém se apaixonasse pela ambição, pela vaidade, pela beleza e por tudo aquilo que nada significa. Talvez soubéssemos cultivar este bem-estar que nos deixa ser quem realmente somos e talvez conseguíssemos perceber-nos enquanto seres unos e especiais.

  Os vínculos fortes, os dias cedidos à sociedade, as dramatizações em que nos tornámos... Tudo isso não significa nada nestas calmas manhãs de Inverno em que só me interessa ser como se nunca tivesse sido. Estamos completamente sós e isso é bom. Somos almas isoladas. Almas que precisam de estar perante si mesmas para perceberem quem são quando estão perante os outros.
  O pior deste mundo é tomarmos o artificial pelo natural. É pensarmos que a personagem que somos no dia a dia é genuína. Já diziam os japoneses que o "eu" se desdobra em 3 pessoas: no "eu" perante a sociedade, no "eu" perante aqueles que amamos e no "eu" que só se conhece a si mesmo. O "eu" na sua paz e no seu íntimo.
  Perdemos a paz. Perdemos quem somos. Queremos ser quem não somos e esquecemo-nos de que somos isto: somos pessoas a viver na tranquilidade das manhãs. Pessoas que nasceram para aproveitar o calor dos raios de sol e para observar as manhãs luminosas. Falhámo-nos. Perdemo-nos. Será que um dia nos voltaremos a encontrar?
   


   

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