Inefabilidade distópica Estávamos numa das ruas de Rouen. Penso que seria a Rue Saint-Romain, que nos leva desde a magnífica catedral até à igreja Saint-Maclou. Estávamos ali, envolvidos pelas gárgulas da catedral e pelo aspeto simultaneamente sombrio e belo que emana dos monumentos góticos. O céu estava a pôr-se e as cores de que se revestia fizeram-me lembrar o meu terraço, a mais de 1500 km de distância. Não eram as mesmas cores. Não era a mesma luz. Ali, havia uma luz setentrional, menos branca, em que os tons escuros sobressaíam mais, ainda que os tons claros não tivessem desaparecido totalmente. Estávamos noutra latitude, estávamos noutro universo luminoso, o que não me impediu de pensar nos vários pores do sol que havia contemplado do terraço da minha casa. Creio que as reminiscências são assim: vêm quando menos se espera, por coisas mínimas. Lembramo-nos de gestos, de sensações, de pessoas, de palavras, de ideias e de momentos devido a pequeníssimos ac...
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