Outonalidades
A (des)coloração
O Outono já se instalou e, nos campos em
redor, as belas cores da estação já fizeram a sua aparição. O amarelo, o cor de
laranja, o castanho, o verde e o vermelho misturam-se numa harmonia perfeita
que, na realidade, nada mais é senão o princípio do fim: em breve, cairão as
folhas e o frio do Inverno matará a beleza poética do Outono.
O Outono agrada-me, assim como os últimos
meses do ano. É a estação da mudança e, ao mesmo tempo, do sossego. A chegada
do Outono e os primeiros dias de frio são mágicos para mim, pois representam um
período de reflexão e de uma certa paz para mim. Assim como as folhas das
árvores, também as nossas almas começam a revestir-se de outras cores, cores
essas que são fruto da experiência acumulada ao longo do ano. É a hora de
colher os ensinamentos que nos trouxe este ano e de preparar o ano que se
avizinha.
Creio que já refleti sobre os ensinamentos
que este ano trouxe; se calhar, até já refleti demais. Está na hora de certas
folhas e de certas pontas soltas caírem. É a hora de sair da estagnação em que,
em determinados momentos, o meio em que estou me faz tombar. Estará na hora de
outros fazerem o mesmo, de dizerem “não” à infelicidade e “sim” ao mundo.
Trata-se de um processo difícil; afinal, nem todos compreendem verdadeiramente
a renovação, o reerguer da acumulação de ruínas que o tempo deixa dentro da
nossa alma.
Como cortar as pontas soltas que nos agarram
a armadilhas? Honestamente, não é fácil. Ter a coragem de ir contra o que nos é
conhecido custa tanto… e, no entanto, é a única forma, a única solução se
queremos, enfim, reencontrar-nos e habitar-nos em nós mesmos.
Agradará o Outono a toda a gente? Há quem não
queira a reflexão nem a acalmia. Passam pelos pingos da chuva, logo, de que
lhes serve a reflexão? O desassossego só chega a quem pensa; os outros vivem em
beleza-mesmo, não sabendo o que a Beleza é.
Às vezes, falta-me a coragem – até de
escrever, meu Deus! Falta-me a coragem de bater o pé, mas passo o meu tempo a
mudar-me, a renovar-me, a refletir e a cansar-me do que me envolve: única
constante da minha vida. Não posso perder a coragem de me ser, sob pena de
morrer entalado, sufocado, asfixiado com as palavras que não pus no papel ou
com as batalhas que não travei: a Hora chegou, é preciso agarrá-la e ir. Ir.
Ir como se o vento levasse uma folha outonal a um sítio desconhecido do mundo:
um sítio onde, enfim, essa folha verá que há Outonos mais belos do que aquele
que, até então, ela conhecia.
Escrito a 27 de outubro de 2018
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