Um mundo cheio de leituras e bons escritores e ah um pouco de amor, sim? 

  Ler. Escrever. Dois atos tão banais e, no entanto, tão transcendentes. Mergulhar dentro das páginas de um livro, escrever tudo o que vai na nossa alma, encaixar palavras que parecem pequenos seres mágicos, encadear ideias e escarrapachá-las numa folha de papel outrora sem vida é algo tão extraordinário que nada o pode descrever.
  Há quem considere ler uma seca. Respeito a opinião, sim, mas não a entendo. Não sei se será só comigo que acontecerá, mas, quando leem, não parece que as palavras têm magia? A dança delas nas frases, a sua mudança segundo o contexto, a sua forma gráfica, tudo isso tem sentido. Ler uma frase não é só perceber palavras isoladas. É situá-las num espaço e tempo que alguém nos quer transmitir. É interpretar aquilo que está lá e, sobretudo, aquilo que só cada um de nós vê. 
  Um novo livro é uma nova aventura, sempre. No início, sentimo-nos como pequenas crianças que procuram algo no meio de um bosque sombrio. Queremos perceber o que quer X, o que faz Y, quem vai ser o vilão, quem vai ser a melhor personagem para nós. Depois, com o tempo, já somos adultos. Adultos que conhecem o corpo da história e já sabem os pormenores da história que, se calhar, vai sair das nossas memórias, mas irá permanecer dentro do nosso ser, da nossa alma. 
  Para além disso, ler é, sem dúvida, a melhor arma contra a ignorância. O livro pode nem ter grande conteúdo, nós podemos nem gostar muito dele, mas vamos sempre retirar algo positivo daquele monte de páginas que só ganha vida quando os nossos olhos o tocam. Ler ajuda as nossas mentes. Ajuda-nos a expressar pensamentos, desejos, a ver o mundo e condiciona a nossa maneira de pensar. Determina-nos. 
  E escrever? Essa é a parte traiçoeira. Escrever sabe bem. Construir uma frase e transmitir as nossas ideias alivia a tensão da nossa alma. Preencher uma folha branca com palavras e frases coerentes que sejam uma reflexão dos nossos pensamentos, medos, ânsias e frustrações é algo incompreensível. Escrever até estarmos limpos. Limpos dos nossos pensamentos. Limpos de quem somos. Limpos de quem nunca fomos. 
  Porém, escrever não é fácil. É, talvez, uma das artes mais difíceis. Escrever pequenos artigos pontuais, escrever num diário, escrever um texto para a escola não é assim tão difícil. Sabemos o que queremos dizer, porque, muitas vezes, só o queremos dizer a nós mesmos. Contudo, escrever de forma genial, escrever como Eça de Queirós ou George Orwell o fizeram, não é pêra doce. Custa. Custa tanto. Descrever com precisão. Abrir o mundo ao meio e mostrar que ele pode ser visto de vários prismas não é simples. Temos de nos despir. Temos de nos entregar às palavras e deixá-las entrar dentro de nós para depois as escolhermos. E escolhê-las não pode ser feito de ânimo leve. Temos de saber o que queremos transmitir, como transmiti-lo e para quem transmiti-lo. Não podemos escrever simples frases à toa, com palavras cruas. Temos de fazer algo mais que implica não só escrever corretamente como escrever com precisão e arte. 
  Não considero que seja capaz de fazê-lo como o descrevi. Não consigo escrever assim. Transcende-me. Para já, transcende-me. Quero fazê-lo. Adoraria fazê-lo nem que isso demore uma vida, mas, para já, ainda não consigo. Mas consigo perceber a magia das palavras, a magia que elas trazem e que carregam inevitavelmente. Aquela magia que preenche os nossos poros e que nos define para além do ser biológico que somos. 
  Costuma-se dizer que '' a vida é feita de pequenos nadas ''. Ler e escrever são exatamente isso. Pequenos nadas. Aqueles pequenos nadas que valem bem a pena.


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