Poema
Deixo que a claridade me cegue. Não adianta lutar contra ela, berrar, revoltar-me, Assim é, assim a aceito. Maio chegou e, com ele, uma claridade feroz Uma claridade que nos atinge a nós. Todos. Todos a recebem, todos são encadeados por ela Não adianta escaparmos como uma ferida gazela... O branco queirosiano das casas refulgentes, A seiva bruta das plantas, O cheiro do campo e do dourado Sol, A minha cabeça e os meus olhos tão cansados quanto fascinados. Amo esta luz que me fere. Talvez a ame por minha não ser, Por ter de a aceitar. Aceito-a como aceito o absurdo do mundo: às vezes esperneio contra ele, mas não adianta. Hoje o dia é de sol, Talvez a chuva venha aí um dia destes... Talvez... Perco-me nestas conversas dubitativas de uma época dubitativa. Amanhã hei de acordar (porventura) E ver o dia que se ergue contra a minha insig...