Corredores

Uma casa com um grande corredor, onde os meus passos se perdem. Salões que se cruzam e entrecruzam como num sonho em série. Sinto-me a cheirar as flores nos vasos, olho o sol que rebenta as janelas, visto-me com uma força ancestral que não sei de onde vem. Toco os mármores das estátuas com estas mãos finas, cheias de força espiritual e maduras de escrita. Estas mãos que tremem, que se animam, que me doem e que me são até ao fim. Com estas mãos me crio, me reinvento e me choro. Choro-me até à ponta dos dedos e cristalizo-me nesta mão magra, comprida, de dedos finos. A camisola às riscas ajusta-se-me ao busto e torna-me versátil. Flexível. As calças pretas fazem-me sentir estas pernas que me seguram, que me puxam para a frente como se nunca pudesse fazer outra coisa. Quem me impele a seguir? As botas devolvem-me o ser, a personalidade, ao mostrarem-me estes pés que arquejam, que querem descanso, mas nunca o pedem. Estou à frente de um espelho. Como? Apenas sei q...